Análises
Análise: Sifu – do meme a grata surpresa em um ótimo jogo de luta
Uma verdadeira experiência do Kung Fu na sua forma mais limpa
Quando o anúncio do título do estúdio Sloclap surgiu na State of Play, veio carregado de responsabilidade, principalmente pelo fato dos fãs estarem entusiasmados com a possiblidade de ver algo sobre o novo God of War: Ragnarok. O que acabou gerando certa frustração em boa parte dos espectadores que, de imediato, não perderam a oportunidade de ironizar o anúncio se fazendo valer da infeliz coincidência no nosso idioma para o nome do jogo SIFU, fazendo várias referências com tom humorístico e carregado de ironias por conta do visual “mais simples” do até então desconhecido trabalho que viria.
Desde então, nada se levou tão a sério sempre que o assunto era abordado e exemplo disso foi a demonstração do jogo, o que tantas outras vezes é visto como um momento muito esperado por todos para sentir o gostinho do que vem no futuro se resumiu a uma piada: Sifu Demo.
Nos últimos anos temos notado uma escalada agressiva e cada vez mais exigente dos jogadores quando se fala em novos títulos sendo desenvolvidos, talvez pelo alto custo nas aquisições dos jogos e constantes comparativos de plataformas que buscam sempre o topo entre o que é melhor e mais forte quando se fala em reprodução de jogos, qualidade de imagem e som, além de tudo que pode ser entregue dentro da experiência nos games.
Isso torna, talvez, o cenário mais injusto com jogos que podem ser muito bons mesmo não tendo todo o apelo realístico que os fãs esperam ver quando ligam seus consoles em seus monitores de alta resolução.
E esse é o caso de Sifu, vamos falar sobre isso nos baseando na nossa experiência jogando o mesmo.
Vingança é a motivação, mas foge do padrão em alguns aspectos
O início do jogo trás a narrativa que norteia a maioria das histórias dos filmes de luta, principalmente da década de 90, porém, com a diferença que você não começa essa história sendo o herói.
“Sifu” é o termo para mestres-professores do kung fu, e é exatamente ele que sofre a primeira derrota em frente ao seu filho que, escondido, acaba presenciando a morte de seu pai sendo atacado por uma gangue liderada por cinco personagens que já se apresentam desde o início de forma implacável, derrotando toda a academia e seus integrantes um a um na medida que cruzam seus caminhos. A partir disso você, já com 20 anos de idade, surge para o início da trajetória como protagonista buscando eliminar todos os cinco vilões que tiraram de você ainda criança a figura paterna.
Não espere grandes diálogos, o protagonista vem extremamente concentrado no objetivo e frio nas suas ações, e isso abrevia em muito qualquer tipo de interação com inimigos óbvios em seu caminho. Opções de diálogos são oferecidas e algumas poucas vezes podem mudar o rumo da história, mas ainda assim podem não evitar um confronto com muitos socos e pontapés.
Os Cenários
A história se inicia em um cenário periférico, situado em Cortiços, com um visual caótico e com algumas possibilidades de interação com objetos e móveis.
Portas trancadas, escadarias, atalhos, janelas com vista para os inimigos a frente e muitos corredores. Isso é o que temos a frente em nossa jornada, mestre a mestre, passando por algumas situações bem difíceis com espaços pequenos e muita gente pronta pra te nocautear. Alguns jogadores chegam a fazer um paralelo entre Sifu com os jogos do gênero Soulslike, o que não deixa de ser verdade, Sifu é um jogo difícil e talvez até em sua mecânica com uma linha de aprendizagem mais demorada que qualquer outro Soulslike.
Talvez tenhamos observado o primeiro aspecto negativo exatamente considerando esse comparativo citado anteriormente, pois em jogos onde se exige uma movimentação precisa e muita atenção aos espaços disponíveis, o posicionamento da câmera não pode deixar a desejar e, em Sifu, a dificuldade fica clara sempre que por conta dessa característica em espaços menores o que era difícil se torna cada vez mais desafiador te levando à morte bem mais rápido.
Vale muito a pena ressaltar que, embora os cenários juntamente com o posicionamento da câmera possam dificultar a vida do jogador, todos eles são muito bonitos de acordo com a proposta do jogo. Neles passamos por Clubes Noturnos, Prédios Corporativos e até mesmo uma Exposição de arte, no total são cinco cenários de acordo com a fase que você alcança.
Quadro de Itens
No menu, desde o início temos o quadro que nos trás os achados de Sifu durante sua caçada.
Cada item que encontrar pelo caminho será fixado por aqui, desde uma chave até um bilhete com alguma informação ou dica dos seus próximos passos em busca da vingança.
Os inimigos
Aqui encontra-se o maior ponto positivo para nós em toda gameplay de Sifu, seus oponentes no caminho.
Por cada pequeno espaço que passar você poderá encontrar um tipo diferente de adversário, homens, mulheres, grandes, pequenos, fortes e mais fracos também.
E onde se encaixa como ponto positivo?
Na possibilidade de que TODOS tem muita capacidade de te derrubar em pouco mais de dois golpes certeiros, a IA do jogo não deixa nada a desejar nesse sentido, os adversários usam garrafas, madeira, facas, barras de cano e de ferro, tudo que podem para te ferir. Além de usarem de maneira muito ágil e inteligente o cenário em favor deles, o que você também pode fazer é claro, mas tudo fica bem mais difícil com uma meia dúzia de lutadores furiosos te perseguindo.
O que chama a atenção é a capacidade de se adaptarem aos seus golpes, o que fatalmente irá te render um bloqueio em algum momento e consequentemente um revide no ataque, e isso é ótimo, pois tira constantemente o jogador da sua zona de conforto e faz com que tenha obrigação de aprender mais variações dos ataques e defesas para poder prosseguir, gostamos muito desse desafio.
Penalização por Morte
Aqui mora a novidade.
O quadro do protagonista em Sifu possui um cordão com cinco anéis, um talismã, e cada anel desses irá se quebrar para cada vez que você “ressuscitar” durante as batalhas.
Mas então o personagem é imortal? A resposta é Não.
Para cada morte no cenário, o jogador pode optar em Levantar ou Morrer. A primeira opção significa continuar exatamente de onde caiu, sem interrupção e considerando inclusive os danos que já foram causados nos inimigos, porém, seu contador de morte será iniciado e irá acrescentar 1 ano de vida ao personagem, e isso é cumulativo. Iniciando a trajetória com 20 anos, após a primeira morte terá 21, com duas mortes passará a ter 23, com três mortes no contador já passará a ter 26 e isso poderá chegar somente aos 70 anos, chegando a essa idade também é game over.
Se sua opção for de não levantar para seguir as lutas, você retorna ao inicio da missão com o contador zerado.
O protagonista com 20 anos
Isso faz com que o jogador seja mais ponderado com o desafio, pense a longo prazo, uma vez que toda vez que Sifu envelhecer, ele irá deixar de evoluir e perderá habilidades, tornando tudo mais difícil também.
Aqui já com pouco mais de 60 anos
Quando seu personagem tem mais idade, sua saúde diminui bem como sua capacidade de aprender novas técnicas, mas sua experiência aumenta e seu poder de golpe também.
Ao quebrar os cinco anéis do talismã, automaticamente é game over, te fazendo retornar do inicio da missão.
Árvore de Habilidades
A árvore de habilidades Sifu é uma ferramenta que deve ser usada com sabedoria, decidir sobre um ataque específico pode ser desde um acerto para a necessidade do momento, até um erro irreversível que pode comprometer sua situação atual. As habilidades são caras, podendo custar algumas centenas ou até milhares do seu XP acumulado apenas para desbloqueá-las temporariamente, enquanto exigem quatro ou cinco vezes a mesma quantidade se você quiser mantê-las disponíveis permanentemente no seu arsenal de golpes.
À medida que você vai progredindo no jogo, você ganhará pontos de XP. E eles podem ser usados antes de cada nível ou quando você morre. Use isso ao seu favor, porque você voltará muito mais poderoso para a luta do que estava antes.
Aprender a usar o Parry e a Esquiva são dois comandos que vão ser extremamente cruciais na sua jornada. Por isso, utilize o L1 para Parry e L1+LS para cima ou para baixo. Além disso, o R2 também oferece uma esquiva efetiva, e te dá uma janela para correr pelo cenário para fugir de certas cadências de golpes.
Posicionamento cuidadoso e uso inteligente do ambiente a seu favor são a chave para sua sobrevivência. Use tudo que houver à disposição: objetos arremessáveis, armas improvisadas, janelas e saliências… as chances não estão a seu favor, e não haverá misericórdia para você, a adaptação é o caminho.
Resumo
Em nossa análise priorizamos os principais aspectos e diferenciais do jogo, tendo em vista que não gostaríamos de estragar a experiência dos jogadores deixamos de abordar alguns detalhes que consideramos como pontos chave para o melhor aproveitamento do jogo.
Sifu é a história de um jovem estudante de kung fu em uma trilha de vingança, caçando os assassinos de sua família. Um contra todos, ele não tem aliados, mas tem incontáveis inimigos. Ele deve contar com seu domínio único do kung fu e com um pingente misterioso para prevalecer e preservar o legado de sua família.
Dito isso, Sifu é um ótimo jogo de luta, o melhor que joguei nos últimos anos e isso é algo que pode ser ótimo se considerarmos a falta de preocupação em inovar em jogos com esse segmento.
Ao contrário do que se prega em alguns fóruns mais exaltados, o visual do jogo é muito bonito e respeita muito o estilo artístico que se propôs a usar na elaboração dos cenários, dos personagens e principalmente do enredo, que faz com que tenhamos transições muito severas em relação a aparência do nosso protagonista que literalmente envelhece a cada pancada que o derruba, tudo isso é muito bem trabalhado e é muito bom que se apresente de forma tão fluída, pois precisamos de mais variedade no aspecto dos jogos que chegarão por aí.
Sifu é um jogo difícil, desafiador, mas com uma boa dose de recompensa para cada golpe que se encaixa e torna a cena plasticamente linda nessa dança coreografada do Kung Fu raiz, é muito satisfatório ver a evolução e cuidado em cada detalhe das batalhas que fazem jus a arte marcial que encantou tantos fãs de luta desde o cinema até mesmo aos ringues e competições pelo mundo a fora.
Sifu foi gentilmente cedido pela Sloclap para a realização desta análise.
Nota: 9